Dissertação de Mestrado Acadêmico

Programa de Pós-graduação em Psicologia

PROCESSOS DE SUBJETIVAÇÃO

11/03/2020

A histeria em Freud e suas relações com a psiquiatria: rupturas epistemológicas

Trata-se neste trabalho de uma pesquisa teórica em psicanálise que averiguou a etiologia da histeria e como esta se efetivou como ruptura epistemológica freudiana com a psiquiatria e com a medicina no final do século XIX e início do século XX. Pesquisou-se também a natureza do sintoma biológico e suas implicações na clínica da psiquiatria biológica contemporânea. Utilizou-se de metodologia de revisão bibliográfica a fim de dissertar sobre a seguinte problematização: Quais elementos teórico-clínicos proporcionaram à histeria sua configuração como ruptura epistemológica freudiana? Atestou-se com esta pesquisa que a histeria, tal qual concebida por Freud, foi dissolvida em uma série de grupamentos de transtornos na clínica da psiquiatria biológica, do final do século XX aos dias atuais. Como se deu essa dissolução? Para análise e discussão dessa questão buscou-se pesquisar os rudimentos da ruptura epistemológica freudiana, a saber, a clínica da histeria. Essa clínica elucidou a concepção psíquica do sintoma, em oposição ao método anatomoclínico, estabelecido na medicina e almejado pela psiquiatria, no final do século XIX. Pesquisou-se também elementos da clínica freudiana da histeria extraídos de dois casos clínicos: Emmy von N. e Elisabeth von R. Destacou-se nesses casos a mudança da posição clínica de Freud, inaugurando outro modo de clinicar: a inclusão do saber do paciente no tratamento, estabelecendo a clínica da “cura pela palavra” (talking cure) iniciada por Breuer no tratamento de Anna O. Analisou-se, em seguida, a constituição da psiquiatria biológica na segunda metade do século XX, bem como o significado do sintoma biológico nesse campo de saber e seu modus operandi, sustentado pelo uso do Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM). Posteriormente, buscou-se o entendimento do conceito de neurose de transferência para a compreensão do manejo da transferência – enquanto operador clínico – pelo psicanalista e pelo psiquiatra, em suas conduções clínicas, ou da recusa desse manejo, pelo psiquiatra. A compreensão desse conceito revelou diferenças radicais entre as direções do tratamento na psiquiatria biológica e na psicanálise freudiana. Esta pesquisa confirmou o posicionamento do analista em favor da causa da clínica da histeria, pois esta, ainda que estabeleça relações com a psiquiatria biológica, permanece como uma ruptura epistemológica.

Freud's hysteria and its relations to psychiatry: epistemological ruptures

This paper regards in theoretical research in psychoanalysis that investigated the etiology of hysteria and how it became effective as a Freudian epistemological break with psychiatry and medicine in the late 19th and early 20th centuries. The nature of the biological symptom and its implications for the clinic of contemporary biological psychiatry were also researched. A bibliographic review methodology was used in order to discuss the following problematization: What theoretical-clinical elements provided hysteria with its configuration as a Freudian epistemological rupture? It was attested with this research that hysteria, as originated by Freud, was dissolved in a series of clusters of disorders in the clinic of biological psychiatry, from the end of the 20th century to the present day. How did this dissolution take place? In order to analyze and discuss this question, we had sought to research the rudiments of the Freudian epistemological rupture, namely, the hysteria clinic. This clinic elucidated the psychic conception of the symptom, in opposition to the anatomo-clinical method, established in medicine and pursued in psychiatry, at the end of the 19th century. Elements of the Freudian hysteria clinic extracted from two clinical cases were also researched: Emmy von N. and Elisabeth von R. In these cases, the change in Freud's clinical position stood out, established another way of practicing: the inclusion of the patient's knowledge in the treatment, establishing the talking cure initiated by Breuer in the treatment of Anna O. Then, the constitution of biological psychiatry in the second half of the 20th century was analyzed, as well as the meaning of the biological symptom in this field of knowledge and its modus operandi, supported by the use of the Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders (DSM). Subsequently, the psychoanalyst and the psychiatrist researched the concept of transference neurosis to understand the transference management - as a clinical operator - in their clinical conducts, or the psychiatrist's refusal of this management. Understanding this concept revealed radical differences between the treatment directions in biological psychiatry and in Freudian psychoanalysis. This research ratified the analyst's position in favor of the cause of hysteria clinic, as this, even though it establishes relations with biological psychiatry, remains as an epistemological rupture.